29/04/2014

Bananas e o preconceito invisível

"Temos que rir desses retardados", essa foi a frase dita pelo jogador Daniel Alves ao explicar a atitude de ter comido a banana atirada por um torcedor racista.

Pouco depois, foi a vez do Neymar lançar a hashtag #SomosTodosMacacos. Pronto, foi o suficiente pro assunto viralizar nas redes e o discurso contra o racismo, de uma hora para a outra, se tornou a bandeira de vida de uma multidão de bananas, digo, de macacos, não, perdão, de internautas brasileiros.

O que passou batido, talvez pela banalização da palavra, talvez pela falta de movimentos engajados militando por seus direitos, foi a frase “temos que rir desses retardados”.

Ora, quando o jogador brasileiro diz que é preciso rir dos retardados, ele atinge, agride e despreza milhares de pessoas com deficiência intelectual ou cognitiva e suas famílias, que já carregam consigo o sofrimento com os cuidados especiais que os portadores requerem, e agora têm que engolir a seco o estigma do preconceito destacado em todos os veículos de comunicação, com o agravante de não poderem se defender. Afinal, de acordo com Daniel Alves, retardados são apenas pessoas risíveis.

É fato que o senso comum nunca foi generoso em relação às pessoas com este tipo deficiência. O preconceito já existente tem atrapalhado e vitimado muitos portadores em sua busca por inclusão social, respeito e dignidade.

E nesse sentido, a frase do jogador, repercutida em todo o mundo serve apenas e tão somente para reforçar o estereótipo de que todas as pessoas com deficiência intelectual ou mental são loucos, inaptos, sem condições de conviver na sociedade. Uma ignorância que despreza o fato de que tais deficiências possuem diferentes níveis de gravidade, algo que torna a generalização ainda mais estúpida.


No final das contas, a história das bananas e macacos serviu pra revelar o atraso do racismo europeu, a sagacidade das agências de publicidade brasileiras e também, infelizmente, que o preconceito e o desrespeito contra os deficientes intelectuais permanece forte, enraizado, sem o apoio de celebridades esportivas ou globais e, lamentavelmente, ainda é aplaudido quando expressado por um jogador de futebol. #SomosTodosBabacas.

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