27/09/2013

Popdollkiller: Eu, meu walkman e minha Music Television

Em 1994, eu comprei meu primeiro walkman. Meu pai colocou algumas 80 cédulas na minha mão e disse “faça uma pesquisa e compre o que tiver o melhor custo-benefício!“. Eu achei um walkman style por 28 reais, mas a gente não pagava com reais porque ele não existia ainda. Era URV (unidade real de valor, espécie de moeda transitória), tá? Fui para casa e finalmente poderia colocar as minhas fitas K7 gravadas do Cult 22 da semana passada. A minha diversão musical da semana era escutar aquelas fitas. Sim, porque os discos dos meus pais, por melhor que fossem, não era o que eu queria mais.

Não demorou muito. Algum tempo depois, meu pai chega em casa e me fala que tinha assinado uma tv a cabo. Massa! Lembro de pegar o controle e começar a passar os canais. Eu parei na MTV e lá fiquei a tarde toda. O Kurt Cobain já tinha morrido, mas eu ainda não tinha assistido o Smells Like Teen Spirit. Pois é, no outro dia eu roubei o lápis de olho da minha mãe e fui pra escola com o olho pretinho. Meus colegas me perguntavam: nossa, o que aconteceu? Eu respondi: - Escuto rock agora!

Era sagrado. Todos os dias ligava na MTV. Tinha de tudo: rap, pop, rock, indie, disco, boy band, tudo. Era 24 horas por dia. Tinha música em qualquer horário. Era Faith no More, Smashing Pumpkings, NWA, Sepultura, Blondie, Rolling Stones, L7, Chico Science, Stone Temple Pilots, Cindy Lauper, Madonna, Michael Jackson, Beastie Boys… Eu não tinha nem terminado meu primeiro grau, mas já cantava e falava sobre música, e de todo tipo de música.

Dois anos depois, eu ganharia meu primeiro baixo e montaria minha primeira banda. Claro, era só de mulheres, tipo L7, rs. Não durou muito e meio que inspirada pelos clipes do Joy Division, NIN, resolvi montar uma banda industrial. O Pil (N.E.: marido e companheiro na banda Lucy and the Popsonics) foi guitarrista desta banda e foi nessa época que começamos a namorar.

Como se não bastasse, eu não devorava apenas a MTV Brasil. Eu tinha a MTV latina também. Eu não tinha grana para comprar discos, forma como as pessoas descobriam música na época, fora os poucos programas de rock que existiam, mas eu consumia insandecidamente música. Descobri Superchunk pelo Massari. Não lembro bem se foi o Kid Vinil quem os entrevistou no Brasil. Superchunk em Brasília foi meu primeiro show internacional, foi minha primeira invasão de camarim, para entregar minha primeira fita demo. Eles provavelmente ouviram essa fita… coitados!

Pois é… é uma coisa meio louca mesmo. Acho que nunca fui nada, mas tudo ao mesmo tempo. Tentava tocar uma coisa parecida com NIN, mas amava Prince e Gary Numan. Também ficava admirada quando assistia Sepultura, Talking Heads, Madonna, Cindy Lauper.

Ah, não se baixava música pela internet, ok?

Às vezes, você até conseguia juntar algum dinheiro que daria para pagar UM disco na Redley Records (N.E.: lendária loja de discos de Brasília). No meu caso, até fiz amizade na Discoteca 2001 do Conjunto Nacional para conseguir algumas fitas pirateadas por quem tinha acesso àqueles discos que eu tanto queria. Conseguia uma ou outra. Pode acreditar, ter um disco de rock até o início dos anos 2000 ainda era extremamente difícil. Normalmente quem tinha acesso era quem viajava para o exterior ou quem tinha amigos que viajavam. Mas nos anos 90, graças a MTV, isso mudou. Todos se lambuzavam com muita música, clipes, acústicos, informação, apresentações, entrevistas, shows....

Obrigada, minha Music Television! Obrigada, Fábio Massari, Kid Vinil, Edgard Piccoli, Astrid, Rodrigo, Marina Person, Gastão Moreira, Thunderbird, Cuca, Sabrina Parlatore! Obrigada por terem me ensinado tanto! Meu iPod agradece!

*Fernanda Popsonic é vocalista e baixista da banda Lucy and the Popsonics.

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